segunda-feira, novembro 10, 2003

Lembram do post parênteses? click aqui

Hoje na aula de redação aprendíamos como escrever cartas. No desenrolar da aula debatíamos sobre cartas de amor: melosas, pegajosas e ridículas, segundo Fernando Pessoa: "Todas as cartas de amor são ridículas, senão não seriam cartas de amor". A professora mandou um colega ler uma carta na apostila e Teve que me escolher como próximo. Eu:
-Eu, sora?
-É, você!

A Ariadne (a quem não sabe: minha ex-namorada) sentava no outro lado da sala hoje. (a menina a sua frente está namorando e o namorado pediu para trocar de lugar com a AD e sentou-se à minha frente)

Antes de começar a ler a carta de amor como a professora me pediu olhei para a AD (sim, ela olhou para mim, mas pense: a sala toda olhava para mim) e comecei:

Existe algo que não sai da minha mente/eu não sei porque tu mudou de repente/você é tudo que eu tinha pra mim/a gente não pode acabar assim/por favor, vamos conversar/e ver se dá pra reconciliar/por favor não vá embora, meu amor/porque eu te acho seja onde for/mas se tenho alguma coisa pra dizer/é que eu não quero morrer/num mundo injusto/onde tenho que viver a tanto custo/acho que não vai mais dar...

Tu vive a dizer que em ti dói mais que em mim/se engana você, não posso viver assim/eu nunca mereci esse castigo/tu não quer só porque eu sou teu amigo/e o que mais me revolta é saber/que tu queria e nunca soube dizer/e agora diz que é tarde demais/por favor, eu nunca viverei em paz/nessa vida o que me resta é viver/mas não sei se ainda eu quero sofrer/nessa vida o que me resta é sofrer/mas não sei se ainda eu quero viver...


Acabara de escrever, na mesma aula, uma letra do Fresno na carteira, Mundo Injusto, e saltei meus olhos para ela e li a primeira parte e ditei a segunda decorada olhando para a AD com a minha melhor e mais verdadeira interpretação. Com os olhos cheios de água e a voz trêmula, meio engasgada. Ao invés de ler a carta da apostila. Ganhei o silêncio total da sala e a expressão da AD. Quebrei o silêncio que se manteve alguns segundos após a minha leitura dizendo nervoso para a AD: "É isso."

Professora: "Que bonito"
Alunas: "Nossa, Ariadne"
Alunos: "Puta merda! Eu dava pra ele" (idiota -__-"); "Vitão, me coooomeeeee!" (outro); "Se fosse a Ariadne agarrava ele agora, galera", vieram para cima de mim me tocando e voltaram para o lugar com o comando da mestra. A AD ficou sem jeito, eu muito nervoso como na maioria das vezes o nervosismo veio durante e depois do ato, não antes. Mas também... De outra forma não podia ser, não sabia que faria isso.

Professora: "E aí, Ariadne. O que você vai fazer agora?"
AD: (Sem jeito)
Professora: "Então vamos continuar a aula, só falta um exercício"
Alunos: "Ah, não sora! Agora não tem nem mais clima de aula. Enquanto esses dois não se beijarem eu não olho para a apostila! (cruza os braços)"; "É isso aê: Beija...(palma)"
Todos: "Beija, Beija, Beija...(palmas)"
Sinal: "Nhééééééééééummmmmmm"

Saíram todos e, lógico, deixaram eu e a AD na sala. Nos aproximamos, ela me faz um carinho no rosto e disse ternura: "Ô, Rosinha...", me abraçou gostoso durante um tempo e convidou para sair da escola junto dela, como sempre.
*Essa também é uma história fictícia

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Ao terminar de ler A Natureza da Mordida

Foi a mesma sensação de parar com o marcador página na mão após acabar um livro. Eu não sabia onde colocar meu sentimento após aquele final....