sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Matando aula na casa do Pedro [editado]

Antes de começar: Eu dedico esse texto ao Branco Leone, meu "tio", grande e ilustre amigo! Que recentemente me titulou “esperança” em um post no seu blog. Um post que, em mim, gerou muita e sensacional emoção. Eu imprimi, mostrei para os meus pais, sentiram-se orgulhosos, até meu irmão leu. A folha ficou na mesa da copa por um bom tempo, até ser guardada. Não tinha ainda agradecido aqui o ato dele porque eu queria dizer algo mais do que simplesmente um obrigado, queria retribuir, da melhor maneira possível. Então aí está esse texto dedicado a ele. Um relato dos meus tempos de oitava série, amigos vizinhos e colégio público. Tinha 14 anos.

Matando aula na casa do Pedro

--Vitor, vai lá que a sua mãe está no telefone.
--Não! Pedro, ela não sabe que eu estou matando aula...

Vitor pensa um pouco consigo mesmo e continua a falar:

--Não sabia, pelo menos.

Pensa mais um pouco e conclui:

--Merda!

Paulo tem uma idéia:
--Hei, Vitão, já sei! Relaxa. Xá* comigo!

*deixa

3 minutos depois, Vitor:
--Então, como é que foi lá?
--Pois é, Vitor... Eu tentei. Mas acho que a sua situação pode ter piorado.
--Quê?! Como assim?
--Peguei o telefone, né? Falei: “Alô, Dona Mãe do Vitor, tudo bom com a Senhora?”, aí ela: “Tudo, Paulo”, ela conheceu a minha voz, “Já te disse meu nome várias vezes, lembra? Chama o Vitor aí que eu quero falar com ele”.
“--Lembro, Dona Áurea. Mas sabe o que é...? O Pedro se enganou. O seu filho não está aqui não. A gente achou que ele tinha vindo conosco como daquela outra vez que a Senhora lembra bem e ele melhor ainda, mas o Pedro se enganou, porque o Vitão não veio não. Ele está lá na escola tendo aula. Sabe?”

--Você tinha que ter dito esse “sabe?” no final?
--Deixa eu continuar! Aí ela disse:

“--Ah, é? Sei... Olha que estranho: eu liguei lá para falar com ele e me disseram que ele não tinha ido hoje, acredita...? Hum. Eu vou achar esse menino. Tá bom, obrigada.
--Foi nada, Dona Áurea! Qualquer coisa...”.

--Então, foi isso aí que aconteceu, Vitão. Agora eu não sei...
--PUTA QUE PARIU, Paulo. Estou mais ferrado do que bunda de viado tarado. Se tivesse logo falado que eu estava aqui mesmo... De novo.
--Pô, cara. Descurpa, mal aí. Mas como eu... A gente ia saber? ...Que ela tinha ligado lá na escola? Achei que ela ligou para cá e se você não estivesse aqui, ela ia saber que você estava na aula. Mas ela foi mais esperta. A gente não aprende que mãe é mãe.
--Agora fodeu! Que eu vou fazer?
--Ah, inventa outra coisa, Vitão. A gente te ajuda.
--Bem, o que podemos fazer...?
--Ainda não sabemos, mas a gente vai ter alguma idéia e, para isso, não precisamos ficar aqui na parados. Prestem atenção que eu vou falar bonito!

Tirou os olhos de Vitor, olhou para Pedro que estava à beira da piscina, sacudindo os pés na água, ouvindo a conversa dos dois; mas logo tirou os olhos dele também e olhou para frente, meio para cima, enxergando somente o que estava pensando naquele momento. Respirou e disse:

--Sobre o plano que em nossas mentes traçaremos, aquiteta-lo-amos dentro d’água, pois a água da piscina propícia-nos um melhor fluxo para o raciocínio e surgimento de novas idéias!

Silêncio.

--Caramba, Paulo. Não conhecíamos o seu lado candidato. Você podia trabalhar no horário político. Teria boa carreira.

Risos.

--Muito engraçado, senhor Vitor-mata-aula-e-a-mãe-descobre. Mas vejam que aqueles livros “bobos segundo vocês”, que eu fico lendo na aula, me são muito útil-os!
--Então, porque, quando você foi falar com a Ritinha, disse tudo atrapalhando e pareceu um idiota? É só ela estar por perto que você...

Interrompe:
--Ah, tomar banho, nego! Precisa lembrar? Fiquei nervoso, foi isso.

Tchum-Splash! Cai Pedro na água honrando o próprio nome: como uma pedra. E diz:

--Os dois viadinhos vão ficar aí discutindo no sol? Não vão vir para a piscina refrescar o “célebro” para terem mais idéias? Hein, vizinhas amistosas?
--Hei, em primeiro lugar, viadinho é o ocê! E esse negócio de vizinhas amistosas eu também vi na novela. Não foi você que inventou não!

Num salto, gritam “bomba” e caem os dois, feitos duas balas de canhão, na água.

Um comentário:

rnt disse...

Hahahahahaha, que banho de piscina gostoso... Existem poucas coisas melhores do que matar aula. Homenagem bastante apropriada ao Branco. =)

Então, a comédia "Curtindo a vida adoidado" é um filme dos anos 80 que passou (até a náusea) na sessão da tarde, vc deve conhecer sim: http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/curtindo-vida-adoidado/curtindo-vida-adoidado.htm
E Salve Ferris! (hi hi hi)

beijos e muitopom te conhecer!

Ao terminar de ler A Natureza da Mordida

Foi a mesma sensação de parar com o marcador página na mão após acabar um livro. Eu não sabia onde colocar meu sentimento após aquele final....