sábado, julho 28, 2007

Visitante inusitado 2

Ontem, anteontem, esses dias... Ele me visitou inúmeras vezes. Fiquei feliz! Tudo ótimo em casa enquanto o recebia, sentava-se na mesa sereno como sempre, olhando-me, ensinando muita coisa, simplificando antigos problemas... Até que eu algum erro cometia. Na hora de servi-lo, por exemplo, e pronto! Por conta disso, pedia para que fosse embora, abria a porta sem nem mesmo olhar em seu rosto; ficando sozinho a pensar. Na casa, eu só, buscando o que deveria ter feito para julgar perfeito os atos meus, julgar perfeito o que preparo para lhe dar (nesses momentos escuros sempre me dá uma confusão danada, pois descubro que julgo perfeitos tempos em que não sei o que é julgar). Como eu pude errar um passo tão óbvio dessa receita? Eu pensava. Aí, nesses dias aprendi algo de toda a diferença. Ao invés de ficar andando pela sala, abrindo e fechando a geladeira, os armários, ir a cozinha e voltar e não pegar nada, não fazer mais do que coçar a cabeça durante o percurso em busca de algo que eu nem sabia o que era e ainda não descobri; aprendi a parar e respirar (o ar é um presente importante, nos dá vida). Imediatamente, estava sereno como ele. Corrigia a postura e podia sorrir. E podia pensar no que fazer a partir do presente. Ao iniciar esse pensamento, abria a porta e o via ainda não muito longe, pois ele anda devagar, com a mão no bolso, contemplando o caminho... Já ouvi meu vizinho dizer que ele é o próprio caminho. Para mim é um doido cuja loucura é amar de verdade todo mundo. Aí, eu gritava: Hei, Senhor! Ele parava, virava a cabeça primeiro, depois voltava o corpo para mim e, ainda com as mãos no bolso, me ouvia perguntar: Me perdoa? Sem responder, ele começava a voltar. Eu ficava feliz! Enquanto vinha, eu tentava preparar de novo o mesmo prato se fosse possível, para aprender. Mas, se não tivesse mais aqueles ingredientes, tentava criar algo novo. Sempre tem bastante coisa em casa por conta dos meus pais, irmãos e amigos.

O número no título desse texto é por ele ser inspirado (por demais, eu diria) no texto de um grande amigo: Visitante inusitado

terça-feira, julho 24, 2007

tree


tree, upload feito originalmente por Flavs Paradise.

Livro-me do livro fechando-o. E abrindo os olhos para o mundo ao meu redor, não compreendo. Como posso levar um outro tão grande e belo quanto em minhas mãos. As olho e, como não sei fazer a pergunta certa, elas não respondem, contudo se mostram inteiras a mim. É engraçado.

sexta-feira, julho 20, 2007

"...a todos que sofreram acidente no vôo da TAM"

Peguei a vela na estante e fui até meu pai que esperava no portão. Subimos a pé em direção a Basílica de Aparecida. Lá chegando, nos separamos. Ele foi conversar com um padre, comemorará 25 anos de casado amanhã; eu fui até a capela das velas. Pensei no acidente da TAM. Com a chama da vela vizinha acendi a minha, vela de sete dias. Como dói perder! Lembrei. Que os belos anjos tragam do céu o que é preciso na terra - mais uma vez. Oração. Que o manto azul cubra do frio os que agora tremem. Meu olhar fixo na chama. Em nome de um Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo. Olhar para cima e ver um crucifixo; muito mais que vê-lo, sentí-lo. O ar da capela das velas tem uma suave fumaça, que faz ali reinar mais belas as luzes do céu, quando é dia. À noite, só se vêem as luzes da terra - fazemos o possível. Era dia. O sol mandava o presente por entre as frestas artisticamente propositais da parede e todo o caminho da luz era visível e terminava em Cristo. Outra parte terminava onde está agora a vela que acendi; só depois eu reparei. Sorrir foi inevitável. Um sorriso como o de um menino que enxerga o céu pela primeira vez. Conforto, consolação, beleza. Também inevitável a vontade de chorar, que vinha em pulsos que escolhi controlar. Saí da capela. Sentei ao sol, na larga escada. Abaixei a cabeça por um tempo e me levantei. Fui ver a vela como estava. Bela chama. Chama por quem? Sabemos. Sorrimos. Mas uma dor volta. Rezamos. Saí da capela mais uma vez e meu pai já estava vindo. Nos abraçamos e fomos andar. Uma sexta-feira à tarde.

terça-feira, julho 17, 2007

Scrap




E,
por opção dela,
quedam poesias em seu perfil

Uma de Quintana
outra de Drummond

Meus olhos rolam pelas verdades dos versos
Imagino se um dia direi assim
quando o que soprou nesses poetas
soprar também em mim

Minhas palavras ainda são novas
Dizem-me: envelheça, poetinha!
No depois se enxerga melhor a juventude
Você pode balançá-la e pesar seu valor...

Oras!
Mesmo que eu não tenha como dizer com esplendor
O que é tudo isso em minhas mãos,
Sinto
percorrer por dentro delas

Vem do coração

Obrigado pela inspiração, Nina

segunda-feira, julho 16, 2007

Crise?

-Crise?
-Pois é...
-Por quê?
-Não sei...
-O que acontece?
-Sinto-me distante de Deus.
-Como é isso? O que é estar perto?
-Com toda a descoberta e encontro no começo do ano eu estava divino! Sentia-me viver muito forte o plano espiritual. Sabia medir em cada coisa o que era e o que não era vontade de Deus: mil providências a todo momento. Mas parece que eu fui deixando de seguir a Sua vontade... Pode ser. Será um tempo de depuração? Suportar um mundo nos ombros, como diz o poema? Mas para que um único homem erga o mundo, é preciso que esse esteja vazio. Tá tudo dando certo de uma forma, mas uma forma vazia. Como um livro para colorir que está cheio de formas e esperando que a mãozinha da criança venha. Não adianta ter o mundo para colorir sem os lápis-de-cor. Lápis-de-cor... Lápis-de-cor são pessoas. Pessoas se encontram quando você está se desprendendo de você mesmo. Se você não está mais em si, pronto: não pode levar o mundo nos ombros, ele não é só seu. Existe o outro. Na verdade, ele é de todos, por isso, de Deus. Visto isso, você vê que é, também como os outros, um lápis-de-cor, cor única e insubstituível, cor única e que irá pintar as partes mais importantes dadas a você no grande desenho que Deus lhe oferece e conta reaver coloridas, ofertadas pelas mãos do homem que você é.

Obs: O último momento desse texto é inspirado na frase de Rabindranath Tagore: "Deus conta reaver suas próprias flores, ofertadas pela mão do homem".

quarta-feira, julho 11, 2007

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
...
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummont de Andrade

sábado, julho 07, 2007

Sábado

Acordar nocauteado da semana ótima que foi recheada de cultura, aprendizado, novas pessoas, novos lugares, lugares comuns, vida que preenche a minha e a faz ser. Ah, sábado! Acordar bem tarde de propósito. Boiar um pouco na internet. Comer um pão de forma assistindo um programa porcaria enlatado na mtv, desses que enferrujam a feijoada da cultura nacional. Resolver cuidar da vida, trocar de roupa e ir ao supermercado só comprar chocolate, derivados e iogurte. Um pote de Toddy também porque tinha acabado. Mas esse eu não vou pôr na mochila. Deixar as coisas no apartamento e ir até o bar/lanchonete/restaurante da esquina comprar uma feijoada para almoçar. Aceitar a caipirinha free para tomar enquanto espero o moço montar o martitex. Sim, eu tenho garfo em casa, não precisa. Valeu. Tá aqui. Tomar o meio copo-americano da bebida nacional restante às pressas, pois o moço foi mais rápido do que eu. Nada bom somar pressa e álcool. Em casa, preencher o estômago da comida nacional. Divagar no blog... Decidir dar jeito na vida mais uma vez. Ir fazer a mala e partir para Vargem Grande cuidar das crianças num retiro... É! Também ir ver uma grande amiga que batiza sua filha. Ver um, dois, 9 grandes amigos, fazer novas amizades nas crianças e seus pais e derivados. Mas ainda não parti. Estou na parte do blog. Cadê A Mulher de Trinta Anos do Balzac? Vou dormir com ela nas mãos enquanto estiver no ônibus. Será que esses biscoitos serão suficientes para três dias? Acho que irei apagar no ônibus com a cabeça no vidro que tremerá meus pensamentos, os quais não me lembro mais. Fazer a barba.

Para m.

Enxergar a dimensão espiritual da vida esclareceu muita coisa para mim... Mas, às vezes, não quero as coisas esclarecidas, compreendidas; geralmente quando caio. Aí, fecho os olhos e só vejo esse organismo chamado mundo, sem sua alma. Mas, se os abro novamente, preciso de algo para me apoiar e manter-me em pé. Só há um lugar que pode nos manter assim, o chamo Amor.

quarta-feira, julho 04, 2007

Lina!


Estava na rua Traipú às 18h e 10min no domingo passado. Quando ela atendeu o celular dizendo o seu Oiiiií... na sua voz meiga e sotaque coreano, o sorriso que nasceu em mim era fruto de lembranças e do contentamento em estar novamente diante de alguém muito querida.

RiNa Yoo (lê-se Linaiô) estudou multimeios por um ano na puc comigo, no primeiro ano do curso. Já fazia um ano e meio que não nos víamos.

Desde que entrei na faculdade, cada semestre mais parece um ano inteiro. Assim, parecia que não nos víamos a três anos. Mas, quando me cumprimentou, Lina rompeu o que a minha mente humana constrói e chama de “distância do tempo”. O novo encontro ligou-se ao último como quem une um novo novelo de lã e pode continuar a tricotar um presente que vai dar com tanto carinho. Como é bom poder sorver da taça da vida esses momentos!

Outra alegria me veio ao ver aquela tímida graça, que não falava português com a agilidade brasileira pouco tempo atrás e se reservava muito quando entre os numerosos colegas, dançando com seus amigos uma coréiagrafia, quero dizer, coreografia complexíssima e sofisticadíssima aos olhos de um jovem que só sabe alguns passinhos de forró e olhe lá!

Ela estava no ambiente dela, recebendo-me. Que maravilhoso convite! E como havia mudado! Mantendo-se completamente a mesma pessoa. A língua que falamos não dá conta de explicar o que são as transformações e tão menos quem somos nós.

Lina me contou da maior facilidade de se aproximar das pessoas com mais facilidade, após estar nesse grupo; do encontro com Deus, eu assim resumo. A liberdade de ser com todos livre. Eu também a cada instante experimento essa sensação: pouco a pouco aprendemos a nos colocar no momento presente verdadeiramente. Pensar é, às vezes, inadequado. Quero abrir os olhos na árvore do mundo, ver os frutos que aqui estão e me fartar da doçura contida em cada um como quem está numa mangueira desnudando grandes caroços.

Depois de sua apresentação, havia um jantar com todos os presentes. O convidado sentou-se ao lado de sua amiga muito contente e feliz por estar ali, sentia-se muito bem. Lembrava e via mais uma vez a inocência daquela menina cheia de paz, que dividia seu dom com prazer e muito fazia rir. Incrível sensação da pureza infantil sinto em mim quando converso com a Lina... É tudo tão simples no vocabulário que usamos, tudo tão claro; piadas tão brancas, como a lua que reflete a luz de um ser maior. Obrigado, Lina!

Ao terminar de ler A Natureza da Mordida

Foi a mesma sensação de parar com o marcador página na mão após acabar um livro. Eu não sabia onde colocar meu sentimento após aquele final....