terça-feira, novembro 07, 2006

Às vezes, esperar o ônibus pode ser o melhor da viagem

Indo embora, ergui a cabeça, olhei para o sinal e esperei a luz vermelha vir depois da amarela, atravessei a Cardeal Arcoverde e a subi até o ponto de ônibus. Uma menininha, ainda com o uniforme da escola às 22:30, sentada no banco do ponto, estava vomitando. Sua mãe a acudia um pouco. Tinha o irmão sentado lado com um uniforme igual. As pessoas olhavam com um pouco de nojo. Foi a primeira coisa que senti também, infelizmente. Acho que é o sentimento comum das pessoas, o sentimento social que veio em mim primeiro, a reação espontânea era a comum e não a que seria realmente minha, de mim. Depois que enxerguei alguém ali, um ser humano e não o ato de vomitar; dei um sorriso. Perguntei para a mãe se ela queria água para a menina. Tinha uma garrafa na mochila, ia lhe dar. Mas ela disse que também tinha uma nas bolsas que carregava e perguntou se a menina queria um pouco de água. Ela fez que não com a cabeça no seu jeitinho de criança. Falei que ela não precisava beber porém podia fazer uma bochechinha para diminuir o gosto ruim na boca. Mas ela não quis. Perguntei se ela estava se sentindo melhor depois que recostou no banco e aquilo parecia ter acabado. Ela disse que sim. Perguntei se estava com frio, pois só vestia shorte e camiseta. Disse que não tinha frio sem dizer palavra. Eu vesti um moletom que trazia na mochila. Falei um pouco com a mãe dela. Eles ainda iriam para Santo Amaro. Longa viagem. Iam pegar o Socorro. Esse ônibus sempre demora. O meu ônibus logo veio. E, se eu e a menina não trocamos palavras, no fundo, nós conversamos muito. Adorava quando ela sorria quando lhe perguntava alguma coisa e ela parecia melhorar, parecia que eu a distraia um pouco daquela situação. Legal demais foi dar tchau para ela, foi quando ela mais sorriu para mim. Dei um tchau no ponto falando tchau; com as mãos, dei tchau da porta do ônibus e, parado na catraca, dei-lhe um último tchau com o ônibus já se afastando que quase não dava mais para vê-la. Foi a coisa mais linda.

Dedico esse post a Lídia, minha prima, que passou por aqui e deixou alguns comentários que me deixaram feliz.

10 comentários:

Anônimo disse...

Lindo isso, meu caro. Obrgado.
"Disse que não tinha frio sem dizer palavra".

Anônimo disse...

Oi primo
Amei o texto...
vc escreve mto bem msm
estou impressionada!
Parabéns!

brigada por me dedicar o post!

bjsss kiridu c cuida!
Boa semana pra vc!
;*****
;)

Denise Lícia disse...

Parabéns pelo blog! Simplesmente demais.

Hasta!

Branco Leone disse...

Bem-vindo a São Paulo, meu sobrinho. Flores e cacos de vidro, vômito e Carolina Herrera, tudo na emsma calçada.
Abração.

Anônimo disse...

Vitorzzz
vc realmente surpreende, é um texto lindo!

bj

Anônimo disse...

Voce emociona

Anônimo disse...

oi rapaz
que legal seu texto, que ótimo é seu blog, que maravilha que é filho do Agustinho e da Aurea. Adorei tudo, da mesma forma que tenho um imensa amizade e carinho pelo seu pai, que é - se vc não sabe - um tremendo ator.
Abraços e continue a trilhar o caminho, mesmo que uma hora ou outra, ele lhe pareça inexpugnável, aí vc senta e descansa, afinal chegar não é o mais importante.
Jorge Nicoli

Felipe Silva disse...

É isso aí Vitor!

Anônimo disse...

Oi, Vitor!

Gostei muito da prosa. Faça esse favor p/ mim então, pode colocar meu e-mail na lista p/ avisar qdo tiver posts novos por aqui!

lucianjung@gmail.com

Abraços!!
Luciana Duarte

Anônimo disse...

Poxa, muito bom o texto senhor Vitor.
Ele me fez lembrar uma coisa que estava pensando ontem: como as vezes é bom uma conversa com estranhos que nunca vimos antes e sabemos que nunca mais vamos ver. É estranho e bonito essa empatia repentina que logo somos forçados a esquecer. Mas sem dúvida é legal.

Leonardo Leite

Ao terminar de ler A Natureza da Mordida

Foi a mesma sensação de parar com o marcador página na mão após acabar um livro. Eu não sabia onde colocar meu sentimento após aquele final....