"Cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento são mutuamente interdependentes. Constituem uma síndrome de atitudes que vamos encontrar na pessoa amadurecida, isto é, na pessoa que desenvolve produtivamente seus próprios poderes, que só quer ter aquilo por que trabalhou, que abandonou os sonhos narcisistas de onisciência e onipotência, que adquiriu humildade alicerçada na força íntima somente dada pela genuína atividade produtiva".
Erich Fromm, em A Arte de Amar, editora Itatiaia - p56
Hoje eu mandei muito mal no seminário de Política. Mas, antes de começar a falar, é preciso contextualizar, senão ninguém entende nada, nem eu. Fato é que o professor é considerado por muitos cuzão e reprova, por semestre, metade da turma. Aplica uma prova doida que causa revolta.
A prova doida é oral e eu adorei fazer se não contarmos a pequena injustiça perversa que o Mexicano comete. Sentam-se quatro por vez frente ao professor na sala fechada. Para os quatro são feitas 16 perguntas, uma atrás a outra. Você pode escolher quatro para responder. Acertou: bem; errou: amém. Assim, se errou quatro, a sua nota é zero. Você não pode responder uma pergunta já escolhida no grupo.
Na minha vez, a primeira pergunta era para ser minha e eu sabia sua resposta. Porém, antes que eu começasse um pensamento, o Júnior começou a responder. Achei que tudo bem, não é nada. Cedi a vez a ele. Ao ouvir a resposta dele, vi que eu teria respondido até melhor, até mais coisas. Depois do Júnior vinha a Laura, que recebeu outra pergunta fácil e a respondeu muito bem. O ciclo girou e chegou a minha vez: uma pergunta não fácil e que me fez ficar um pouco atrapalhado. No fim, o Júnior respondeu três perguntas que eu sabia melhor do que ele e mais meia pergunta que eu não sabia nada. "Roubou" a minha primeira vez e três perguntas que eu sabia (olha o pensamento que essa experiência me faz ter).
Eu? Respondi uma em cheio e três atrapalhadamente mais ou menos. Essa em cheio foi a questão mais idiota. O professor perguntou uma parte do Texto do Savater (Política para o meu filho). Uma coisa estúpida. Porra, se ele quisesse saber se eu havia lido o texto era só me perguntar: “Você leu o texto?”. Mas, enfim, minha nota se salvou um pouco à custa dessa uma pergunta idiota. Era quase responder: Sim ou Não... Nenhuma reflexão. Eu concordava com o autor? Não? Por quê?
Fiquei com 4, o Júnior 8 e a Laura 3. Se eu tivesse pegado as questões do Júnior para responder, podia ter ficado com até mais do que oito. Mas, ele quis responder, ele é meu amigo: Posso responder essa? Claro que pode! Por que disputaria minha nota com alguém? Onde eu posso chegar assim? Fazendo Essa a filosofia da minha vida, no fim só há a solidão.
Agora me diz, por que um professor estimula essa competição? Eu não vou mudar, não me tornarei competitivo dessa forma e, na próxima prova, será a mesma coisa: não batalharei por uma questão. Batalhar em detrimento do outro? Qualé? Isso vai contra tudo o que tenta melhorar o mundo. Chegar lá sozinho é não chegar, você só chega se está com todo o mundo, se conseguiu dar as mãos para o planeta e andou.
O Mexicano não sabe avaliar por prova!
...De ele simular o mercado? Tá, ele simula. Lá, dizem, é tudo competitivo, tem que batalhar em detrimento de outros... Mas o papel da universidade é o de recriar esse mercado, trazer luz para as pessoas, nunca um treinamento para encarar o inimigo. Se assim quisesse, estava no exército. Soldado Beckenbauer, Senhor, número 001.
Hoje eu mandei muito mal no seminário de Política e fiquei nervoso na volta para casa. Aconteceu que eu tive 3 meses para preparar a minha parte mas fiz tudo em duas horas no dia da apresentação. O que, incrivelmente, rendeu uma nota 6 pela minha apresentação que não mereceu sequer um 2. Explico: o professor está fadado a ser trocado se continuar a reprovar mais de 50% dos alunos, então, agora ele está passando todos. Dando as notas que precisamos em prol de seu emprego. Mas, evidentemente, isso é uma fofoca.
Agora, me diga, pense antes de dizer, um professor desse merece que você se esforce para a matéria dele? Estimula que gostemos de conhecer e entender política? Eu quero mais é ficar apenas na média na matéria dele, 5 e pronto. Mentira, quero 10 sempre. Certo...
O que me trouxe aqui foi ter ficado extremamente nervoso após o meu mau desempenho. Mal fiquei porque sei que não me esforcei. Dava para eu ter feito mais pelo o que eu me conheço, mas... Para quê? Eu era só desânimo.
Aquela citação lá em cima tem a ver com isso. Por que ficar assim se eu construí conscientemente essa situação? Cadê minha humildade? De onde veio a ilusão de fazer tudo em duas horas e dar certo?
Já tirei duas notas dez esse semestre que foram as duas que ficamos sabendo até agora. Talvez venham até mais alguns dez. Mas, e a matéria do Mexicano? Vale a pena se esforçar para ele? Cadê a minha maturidade que não me deixa ter raiva de quem eu não concordo?
Vou prestar atenção na aula que é quase boa (se houvesse mais discussão, se não fosse tão apenasmente expositiva de conteúdo, fosse mais reflexiva) e me esforçar mais no próximo semestre.
A maioria das coisas que eu falei aqui muita gente na sala assina embaixo.
Escrito por Beckenbauer
4 comentários:
É foda!
Uhhh...o que posso dizer?
Concordo. E só para enfatizar, tudo caminhava bem ate a avaliação, na qual ele pecou feio e vimos ontem no que deu. Acho que ele não suportou as criticas e decidiu se retirar. Sorte ou azar? Sorte pq poderemos ter um semestre sem temer a bendita avaliação; azar pq naum teremos a prova viva de que nem sempre um professor universitario segue aquilo que ele prega (ou apenas exemplifica) em suas discussões politicas.
Calma Vitor, de mexicanos assim o mundo ta cheio; vamos fugir deles enquanto há tempo!
Beijos querido
Eu assino!!!
Mas no meu caso, eu me esforcei, só que fiquei extremamente nervosa, e mesmo sabendo tudo o que deveria falar falei errado, falei mal, mas me dei bem, consegui o meu 6 de média, que nesse caso até o 5 me deixaria feliz. Quem sabe nesse semestre a gente aprende alguma coisa :)
Bjsss
Em questão de faculdade, não tenho tanta experiência, justamente por estar cursando meu 2º semestre, mas posso dizer que tenho um conhecimento profundo de como lidar com professores.
Posso lhe dar uma dica. Não importa como a professor seja, sempre há uma forma de tentar modificar suas ações em sala de aula e seu comportamento. A priori, sempre é preferível um bom bate-papo, ou um e-mail que seja, comentando sobre a atuação do já citado e tentando tornar o comentário bem fundado, com os problemas em questão e suas consequências.
Deixando o comentário do texto de lado, gostaria de parabenizá-lo pelo blog. Fazia anos que não lia nenhum texto seu.
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