Penetrar no universo poético das Elegias não é fácil, assim como viver também não é fácil – e é a existência humana em todas as suas implicações que elas transfiguram em imagens singulares. Rilke mesmo reconheceu o hermetismo destes poemas, e, se hoje é possível a sua exegese, nós o devemos a certas observações que fez em carta a seu tradutor polonês W. Hulewicz.
As Elegias se constroem a partir da consciência da separação ontológica e da fugacidade da existência. Num primeiro momento, a vida é sentida como uma impossibilidade, pois o desejo de posse a falseia a cada instante e a visão da morte a tolhe em todas as suas manifestações. Não podemos ser simplesmente, pois a nossa consciência transforma a vida numa floresta de signos que nos distraem e nos desviam de nosso destino. Entre os animais, que, ignorantes da morte e desprovidos de ambição, se sentem imersos no curso universal, e os anjos imortais e perfeitos, estamos colocados numa posição ambígua, vítimas da voracidade do tempo. O amor, que poderia fazer-nos transcender as nossas limitações, também se mescla do desejo de possuir o amado. Por isso, felizes são os que morrem crianças e as amantes abandonadas, que libertam seu amor do objeto amado e superam-se “como a flecha ultrapassa a corda, para ser no vôo mais do que ela mesma”.
Contudo, gradualmente se impõe ao poeta o valor da existência. É nossa missão eternizar as coisas, reduzir a vida das coisas ao espírito através da conscientização. E, afinal, vitorioso o espírito, é possível celebrar a morte e aceitá-la como um momento a mais do Ser universal.
sábado, agosto 18, 2007
Rainer Maria Rilke – Elegias de Duíno
Aba do livro de poesias:
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