Já era tarde da noite em São Paulo e a rua estava deserta. Ele tinha parado e descido do carro. Estava muito confuso, apoiava-se no capo, olhava aquela parte da cidade que não tinha ninguém naquele momento. Não sabia o que fazia, o que havia feito, não sabia nada mais uma vez. Confuso. Ao longe na rua viu surgir um caminhão. E não era um caminhão qualquer. Era um caminhão carregando um navio no meio do asfalto. Um navio. Na cidade? Sem saber por que, entrou rápido no carro e seguiu o navio pelos bairros. Do alto, se via seu carro a seguir e seu carro era visivelmente aquela marcação que o navio faz na água. Aquela marcação que o navio deixa atrás mas nunca deixa pra trás. Traz sempre consigo. É impossível se livrar dela porque também é impossível parar de navegar. E não se navega sem que se deixe alguma marca na água no momento.
postado originalmente em 17 de dezembro de 2006
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