quinta-feira, março 31, 2005
É Páscoa. Levei Pirapanema à missa
Mal saiu de sua aldeia e já estava comigo dentro de umas maiores construções do país: A Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Essa igreja, com seu imenso tamanho, deixou Pirapanema bastante atordoada e amedrontada, achando a mãe do meu Deus muito muito poderosa. Ainda não estávamos nas comemorações do dia oficial da Páscoa, mas sim nas que antecedem... E, apesar de bastante parecida, aquela celebração não uma era missa. Era uma Vigília. Qual a diferença? Bem... A minha opinião se forma totalmente superficial e em minha análise concluí que na Vigília cada um tem uma vela em mãos e na missa não. As velas ficam acesas em dois grandes bocados da cerimônia, o que foi ótimo. Admirando a chama, Pirapanema distraía a sua assustidez, gerada pelo raciocínio que dizia ser a mãe do meu Deus brava com ela porque Pirapanema nem conhecia o filho Deus dela... A Caeté (da tribo dos Caetés) se perdia olhando para aquilo; da vela, o quarto estado da matéria a hipnotizava fácil. Havia fogueiras em sua aldeia, é vero; mas fogo de vela é diferente. Um pedaço dele é azul e pode ser trazido próximo ao rosto para ser examinado bem de perto. O fato é que todo aquele fascínio se desfez numa pingada. A cera quente tocou no dedinho dela, o que imediatamente resultou num gripo apavorado seguido de expressões na língua dos Caetés. Tapei sua boca o mais rápido que pude e a acalmei mansamente. As pessoas já vinham a olhando bastante, era quase como se ela estivesse sem roupa. Mas numa missa, o bom é que todos estão muito dispostos a fazer o bem ao próximo. Muitos sorriam à presença de Pirapanema ali, mas ela olhava assustada para quem quer que fosse. Fiz a jovem caeté segurar a vela de lado para não se queimar novamente. Índia novamente hipnotizada, acompanhei melhor a celebração. Entretanto, aquele sossego não durou até o fim. Pirapanema teimava que a mãe do meu Deus era brava com ela, ainda mais por a Santa ter queimado a sua mão e a minha jovem índia ter gritado nomes feios para a Aparecida. Com tudo isso em mente, foi que Pirapanema ao ouvir o foguetório do final da missa, jogou a vela pro alto (que acabou caindo em mim já apagada, graças...) e saiu correndo gritando como uma louca. Só fui alcança-la fora da igreja no pátio e na chuva que caía. Ela chorava e queria muito voltar para a sua aldeia, mas sabia que não podia. Abracei-a muito e lhe fiz mais carinhos ainda. Tínhamos ido a pé e voltamos todo o caminho na chuva. Em casa, dei-lhe um bom banho morno e ela não quis mais pôr roupa, como sempre. Não estava tão frio, eu vestia uma calça e camiseta; a deixei ficar nua, pois sabia que ela não iria se resfriar. No lar, que agora já era "nosso", Pirapanema sentia-se melhor. Estávamos a sós e em mim ela confiava, ficando assim bastante à vontade. Lhe fiz um chá bem quente antes de dormir. Ela o tomou mais açúcar do que chá (adorava a especiaria) e como das outras noites, fez com que eu dormisse com ela na rede.
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