Peguei a vela na estante e fui até meu pai que esperava no portão. Subimos a pé em direção a Basílica de Aparecida. Lá chegando, nos separamos. Ele foi conversar com um padre, comemorará 25 anos de casado amanhã; eu fui até a capela das velas. Pensei no acidente da TAM. Com a chama da vela vizinha acendi a minha, vela de sete dias. Como dói perder! Lembrei. Que os belos anjos tragam do céu o que é preciso na terra - mais uma vez. Oração. Que o manto azul cubra do frio os que agora tremem. Meu olhar fixo na chama. Em nome de um Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo. Olhar para cima e ver um crucifixo; muito mais que vê-lo, sentí-lo. O ar da capela das velas tem uma suave fumaça, que faz ali reinar mais belas as luzes do céu, quando é dia. À noite, só se vêem as luzes da terra - fazemos o possível. Era dia. O sol mandava o presente por entre as frestas artisticamente propositais da parede e todo o caminho da luz era visível e terminava em Cristo. Outra parte terminava onde está agora a vela que acendi; só depois eu reparei. Sorrir foi inevitável. Um sorriso como o de um menino que enxerga o céu pela primeira vez. Conforto, consolação, beleza. Também inevitável a vontade de chorar, que vinha em pulsos que escolhi controlar. Saí da capela. Sentei ao sol, na larga escada. Abaixei a cabeça por um tempo e me levantei. Fui ver a vela como estava. Bela chama. Chama por quem? Sabemos. Sorrimos. Mas uma dor volta. Rezamos. Saí da capela mais uma vez e meu pai já estava vindo. Nos abraçamos e fomos andar. Uma sexta-feira à tarde.
2 comentários:
Muito bonito o texto, Vítor. Queria ser tão sensível quanto você ( digo sensível não do tipo sentimentalóide, mas do tipo que se aproxima de Deus ), porque a mim parece que quanto mais sensível mais próximo do que há por baixo da vida se consegue chegar.
P.S.: Lá pela quinta linha eu senti um arrepio. Sério.
Emocionante... Chorei...
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