Resolvi ousar um pouco mais e dar aquele conto erótico para a minha professora de gramática corrigir, como se fosse apenas mais uma redação. Depois de corrigi-lo, ela me disse que gostara da história: "Ficou legal, Vitor!", falou também que eu escrevia bem e que era só ter prestado um pouco mais de atenção para não ter cometido os erros bobos que eu cometi. Agradeci e voltei para a carteira olhando os erros que ela tinha marcado em vermelho. Em casa arrumei o texto no computador e publiquei na internet. Fez um sucessinho de 7 comentários. Quando escrevi outro, abusei da gentileza da professora e dei esse novo para ela corrigir também. Ela não se incomodava com o que estava escrito, nem falava nada sobre isso; pelo o que eu via, para ela era só mais uma redação de aluno. Passei então a deixar praticamente um conto por semana nas mãos dela.
No decorrer do mês eu briguei com o motorista da minha escolar e comecei a ir e voltar de ônibus para o colégio. Num dia muito claro de sol e muito quente de luz, ela, de dentro do seu carro preto, me avistou andando na calçada em direção ao ponto. Diminuiu a velocidade até parar ao meu lado. Não identifiquei quem era que estava baixando aquele vidro preto do carona para falar comigo. Até que ela levantou a cabeça e me olhou:
- Vitor! Pra onde você está indo, querido?
- Oi, sora! Até o ponto ali, moro em Aparecida, vou de ônibus para a casa.
- Entra aí que eu te dou uma carona!
Antes que eu pudesse pensar, já estava abrindo a porta do carro e tirando a mochila das costas.
- Valeu, sora. Andar a pé, de ônibus nesse sol não é nada agradável.
- Não me custa nada essa carona... fala sério, rapaz! Mas você é bem jovem e ainda não é muito uma caminhadinha e um aperto dentro do ônibus; quando o tempo passar você vai ver que o mesmo ficará bem pior.
Fiquei pensando naquele "fala sério" que ela disse. Sempre no seu jeito jovem de ser. Lembrei do tempo que ela sempre falava que "cada mergulho é um flash", expressão tirada de uma novela da Globo que virou moda por um tempo.
O silêncio, que já estava quase vivo dentro do carro sem rádio, foi evitado pelo comentário dela:
- Ah, eu corrigi o seu último conto, menino. Ficou muito bom. Você é um rapaz bastante criativo. Seus erros estão diminuindo, está escrevendo melhor.
- Obrigado, professora.
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